Cantora Fernanda Abreu diz que funk carioca sofre preconceito racial até hoje 251a2j
Artista brasileira com 35 anos de carreira solo vai fazer show na sexta-feira (13) em Paris e garante que vai levar ao palco parisiense a carioquice para o público dançar e se divertir. A cantora disse que o show será uma viagem musical e que tocará os seus maiores sucessos. 4d6e2y
"Eu não vou à França há muito tempo, então vou aproveitar para tocar músicas de todos os meus discos. Eu vou cantar músicas do Sla Radical Dance Disco Club, Sla 2, Da Lata, Raio X, Entidade Urbana, Da Paz, Amor Geral… Enfim, acho que a galera vai querer ouvir, cantar e dançar comigo. Então, vai ser basicamente um show com muitos sucessos", revelou Fernanda Abreu. "Esse eio musical vai traduzir muito o que é a minha trajetória dentro da música dançante brasileira. Vai ter um pouco de samba, de funk, de disco… De tudo um pouco", completou. Fernanda Abreu lembrou que seus shows fora do Brasil sempre têm muitos brasileiros e que a energia do palco contagia a todos. "O show é energético, com muita dança, suingue, embalo e batida. Então a receptividade é sempre muito boa", destacou. A cantora carioca, que sempre teve grande identificação com o Rio de Janeiro, revelou que a sua cidade natal é grande inspiração. "O Rio é onde vivo. Eu entendo o mundo através deste olhar carioca. O Rio é uma cidade de uma contradição muito grande, uma desigualdade que está muito na cara das pessoas. Você tem, por exemplo, um bairro como São Conrado, que é riquíssimo no asfalto e, na parte de cima, tem a favela da Rocinha, uma das maiores da América Latina. E esse contraste acontece em todo o Rio de Janeiro. Não é como em algumas outras cidades, que têm periferia e pobreza, mas fora do centro: como se houvesse cinturões. Você tem de caminhar muito para poder enxergar a pobreza e a desigualdade. No Rio de janeiro, por conta do relevo com morros, e com o surgimento de favelas, essa contradição é muito visível", explicou. "Eu comecei minha carreira solo em 1990 com uma linguagem musical muito diferente do que estava sendo feita na época. Eu abracei uma cultura periférica e favelada. Eu era uma menina branca de classe média e sempre defendi o funk carioca porque, no fundo, eu sempre achei que o preconceito era racial; tinha sempre um racismo estrutural ligado a uma rejeição ao funk carioca, muito mais do que musical. Era uma música feita por pretos, pobres e favelados. Então, estava sendo sempre criminalizada, e até hoje é assim" Fernanda Abreu lembrou que, até o início dos anos 90, os morros cariocas eram redutos de samba e, a partir dali, a juventude começou a abraçar esta música eletrônica feita por DJs, que era o funk carioca. "Eu acredito que a minha contribuição dentro da música pop dançante brasileira é ter trazido essa linguagem do funk e a mistura com o samba e com a música eletrônica. Hoje a gente vê aflorar artistas como Anitta, Ludmila, Isa, Luísa Sonsa e tantas outras grandes artistas brasileiras. E que, de certa maneira, seguiram este caminho da música pop dançante", disse. "Musicalmente, o Rio de Janeiro é uma cidade que inventou o chorinho, o samba, a bossa nova e o funk carioca. Então, não tem como eu, que trabalho com música, não olhar, não ouvir e não enxergar essas expressões musicais e culturais. Foi aí que comecei a fazer a minha própria mistura", revelou a cantora. Nesta conversa com a RFI, Fernanda Abreu afirmou que a cena musical brasileira tem se transformado através das décadas. Para ela, a música, tanto no formato, quanto na linguagem, tem ado por evoluções influenciadas pela sociedade e pela realidade da época. Fernanda lembrou que no processo brasileiro de democratização, em 1985, a trilha sonora que se fazia era, também, com críticas à ditadura. "Neste começo de liberdade, nos anos 80, vieram à tona bandas como Blitz, Paralamas, Legião, Kid Abelha, Barão Vermelho; era toda uma juventude que falava de liberdade e com uma pegada rock. E nos anos 90, eu, Carlinhos Brown, Lenine, O Rappa, Planet Hemp, Daniela Mercury, só para citar alguns nomes, começamos a colocar o Brasil dentro desta linguagem musical" detalhou a vocalista, que alcançou o sucesso com a banda Blitz, no início dos anos 80. "O que a gente está vivendo hoje é totalmente diferente porque a indústria da música mudou completamente. Hoje, a gente vive na era do streamming, onde há muitas fórmulas. As músicas não podem ser tão grandes, o pop brasileiro é basicamente criado por beatmakers… Enfim, a indústria mudou muito. Eu acho que hoje é uma coisa mais formatada. Não há tanta liberdade. Se um artista quiser, por exemplo, compor uma música de sete minutos, certamente vai aparecer alguém para dizer que não é o formato para Spotfy; ou se a introdução da música demorar mais de 40 segundos, este mesmo alguém pode falar que as pessoas vão mudar de faixa. Existe uma velocidade que é própria da nossa era digital e que tem influenciado a criação dos artistas", afirmou Fernanda. Dona de hits que alcançaram as grandes rádios brasileiras, como Rio 40 Graus, Garota Carioca, Você Pra Mim, Garota Sangue Bom, Veneno da Lata, Tudo Vale a Pena, dentre outros sucessos, a cantora anunciou que vai lançar este ano uma coleção que celebra os 30 anos do lançamento do álbum Da Lata. "Este disco foi emblemático na minha carreira. Foi considerado o melhor álbum de música brasileira pela Billboard, ganhou disco de ouro e foi o álbum que me lançou fora do Brasil. E para comemorar tudo isso, vamos lançar uma coleção com vinil - já que este álbum só saiu em CD - um livro, um documentário e remix com singles novos. É um projeto bem grande que eu estou debruçada desde dezembro do ano ado", revelou Fernanda Abreu, dizendo que a novidade será lançada, provavelmente, em outubro deste ano. 9122